PARA OS AMANTES DA POESIA











"O poeta é um fingidor,

Finge tão completamente,

que chega a fingir que é dor,

a dor que deveras sente."


Fernando Pessoa


terça-feira, 13 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Triste amor

Me amas tanto
e eu tão pouco,
Me amas de manhã,
Pela tarde...
E até, pela noite!
Te acordas com  meus temores,
E tudo te leva a mim!
Vives tão intensamente
esse amor;
que esqueces de amar-te!
E me doem esses instantes de amor...
Teus! Somente teus!
Como flechadas que te dou! E nem sei!
E sofres, e sentes e morres...
e continuas a viver tão lúgubre viver!
Tuas dores? Vejo todas
E  passam por mim...
E, mesmo me tendo na alma,
Não consegues me atingir!
                          Por quê?

Qualquer coisa

Da coisa breve,
Do espaço leve,
O tempo teve,
O que se vive!

Da coisa certa,
A pessoa alerta,
De linha reta,
A porta aberta!

Da coisa enfim,
O não é sim,
De ser assim,
Dá medo o  fim!

Da coisa pura,
A dor é dura,
A vida atura,
De queda altura!

Da coisa boa,
De uma pessoa,
E uma lagoa,
Um ser à toa!

No dia dos mortos

No dia dos mortos,
Peço a Deus pelos vivos...
Vivos que vivem tortos!

No dia dos mortos,
Rezo os sem-teto vivos...
Vivos sem os seus portos!

No dia dos mortos,
Imploro aos malditos vivos...
Vivos pelos esgotos!

No dia dos mortos,
Rogo os pequenos vivos...
Vivos e natimortos!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Caixa de Fotos



Destroçando tuas fomes;
À mesa de um bárbaro onde comes;
Mergulhado em memórias, das quais dormes,
Lembranças, histórias, - Todos os nomes! 
Um perfeito Funes nos detalhes!
Às datas, os tempos e lugares...
Marés vermelhas, amigos e rubores, 
Família, infância e teus amores!
Teu baú da bagunça, sem temores;
Imagem fotográfica: preto e branco ou em cores!
Tuas memórias são enormes! 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dois Dragões

Vi dois dragões de fogo,
Zingrando o rio,
No crepúsculo do meu véu,
Acima de um arranha-céu!
Na linha do horizonte!
E podia-se ver ao longe,
O pântano dos dragões,
Seu lugar, suas orações!
Matizes vermelhos,
De chamas flamejantes,
Nos espelhos d'água!
Eram dois amantes!
De braços dados,
Corações alados,
Dois dragões gigantes!

Selvagem

Capturas o que não temes;
Armazenas o que não comes;
Amarras o que não prendes;
Sacias as tuas fomes!
E vai-te....
Estranhas o que nao sentes;
Vendes o que não compras;
Juras o que não mentes;
Toleras as tuas rompas!
E parte...

Divindade

Sob os pés do equlibrista,
Repousa a lógica,
Da visão ótica,
A linha tênue do hedonista!

Pendurado à simbiótica,
Estreita mágica,
De queda trágica,
Matéria fina, até robótica...

Imantado brilho venusiano,
De pés alados,
Finos talhados,
Tampouco formam, um Deus humano!

Eis o homem!

Um platônico,
Bípede implume,
Um biônico,
Bíceps infâme,
Eis o homem:
Fragilidade estéril,
Caminho etéreo,
Lúgubre pronome!
Ígneo, hermético,
Cínico, patético,
Quadrúpede disforme,
Eis o homem!

Algo


Terá sido uma boa estrada?
Um bom caminho...
Um meio para algo?
Não o algo!
Um espinho...
Será a estrada o próprio algo?
Não, o caminho!
Paradoxo ou moinho,
Para aquilo que não vejo,
Sinto!
Para aquilo que não sei,
Vinho!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Morte do Sol

E a luz do sol
Cessou!
Da cruz ao pó
Passou!
Na foz, com dó
Morreu!
De mais, de cor...
Perdeu!
Do cais, sem rio,
Sem luz,
Sem mar, Sem Sol Sorriu!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sol

Um sol que já não brilha mais!
Um sol que nem a luz te traz...
Um sol que não orbita e jaz!
Um sol que sempre habita atrás...
Um sol que nem queimar te faz!
Um sol sem um planeta a mais...
Um sol que já morreu no cais!

domingo, 3 de junho de 2012

Tão Mais Fácil

Tão mais fácil
seria,
Atirar-me ao peito!

Tão mais fácil,
diria,
Deixar-me ao leito!

Tão mais fácil
veria,
Enterrar-me o jeito!

Tão mais fácil
faria,
Arrancar-me o feito!



quinta-feira, 31 de maio de 2012

The Sun and the Beast

Sun shines
The Beast!
With shiny eyes,
At the least!
Crosses the river,
Until the East,
Stops to fever
Starts the feast!

Sun comes
The Beast!
With slow steps
On the bleat,
Brings books
From the list,
Sings the songs,
Loves the Beast!

Túnel

Viste o túnel à tua frente?
E tudo que vem à mente!
Uma paisagem - de repente,
Ou imagem transparente!

Viste a luz ao final dele?
E o escuro que há nele!
Uma estrada de uma pele,
Ou, a amada que repele!

Viste além de tuas esferas?
E desafia tuas quimeras!
Uma porta com duas feras,
Ou carruagem de megeras!

Insone

Longa foi a noite,
Vendo-a de mansinho...
Torturando com açoite,
O poeta no caminho!

Curtos foram os sonhos,
Tendo-os por pesadelos...
Revelando o ser medonho,
Um deserto sem camelos!

A pele que habito

A pele  que habito
Não é minha...
E nem minha casa,
Não revela minha brasa,
É  apenas uma linha!

A pele que habito
Não é tua...
E nem tua moradia,
Não revela tua folia,
É  apenas uma rua!

A pele que habito
Não é Dele...
E nem o seu recanto,
Não revela todo pranto,
É  apenas uma pele!

A pele que habito
Não é nossa...
E nem nosso lar,
Não revela nosso par,
É  apenas uma fossa!

A pele que habito
Não é vossa...
E nem vossa morada,
Não revela vossa amada,
É  apenas uma bossa!

A pele que habito
Não é deles...
E nem suas baias,
Não revela suas laias,
É  apenas uma - Neles!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Na tua Persona

Na tua persona,
Há todos os filmes,
que  vi!
E na tua poltrona,
Todos os livros,
que li!
É na pele de um Ricardo...
Assim te vejo:
Que venho até teu reino,
-Um pântano!
E meu cavalo treino!
E como Davi,
Me acertas no meio!
Te agigantas,
Me matas...
És o primeiro!
Que falta?
És o libertino de ontem,
O Ricardo de minha sombra...
O Davi que me apedreja,
A literatura que me almeja!
Tuas falas sádicas,
Tuas imagens fálicas,
Provocam minha poesia,
Vassalagem e pornografia,
Meu verso na tua magia!

sábado, 5 de maio de 2012

BALLET DE FERAS


Na dança do acasalamento,
Que acaso acontece no pântano,
Em nada me lembra o lamento,
Que cala e ecoa ao cântaro!
 
É dança de monstros...
Cultos monstros eruditos,
Feras feridas de encontros,
Encantos de carmas malditos!
 
No encaixe e desfecho bestial,
A carne consome o pudor...
Pode ser sedução celestial 
Ou somente vaidade de amor!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Pântano


Deixo o pântano assim... 
Como quem sai pro mundo! 
Volto pra casa enfim... 
De ter ido ao fundo, 
Retorno de todo fim, 
Só me resta céu profundo...
 E todo corpo que diz -Sim! 
Luar na estrada é fecundo, 
Sei muito mais de mim! 
Cruzo o rio e não afundo, 
Só posso dizer que vim; 
Não é limpo, nem imundo, 
 Chego ao pântano a fim...!

domingo, 1 de abril de 2012

Assim

E assim te vejo:
Puro aberto,
espontâneo,
Duro, certo, instantâneo,
E enfim, te beijo!

E assim te quero:
Louco, intenso,
impreciso,
Rouco, imenso, indeciso,
E enfim, te espero!

E assim te chamo:
Amado, nobre, ideal,
Alado, livre, normal,
E enfim, te amo!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Vowels

Dádivas...
Amado?
Viram
Imãs
Disfarçados!

Déficits...
Amigo?
Voam
Indefesos
Deturpados!

Dívidas...
Amante?
Violam
Índios
Dominados!

Dogmas...
Antigo?
Vencem
Istmos
Descampados!

Dúvidas...
Apolo?
Vagam
Ilesos
Deflorados!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Despedida

E foi história sem começo,
sem início, nem avesso,
nem meio, nem tropeço,
Só o fim era teu preço!

Sem cor, sem cheiro, sem gosto,
nem dor, nem beira, nem rosto,
um sol, sem brilho, sem posto,
Um mar, sem peixe, sem susto!

Vai-te sereno, sem tempo, sem nada...
Em busca de senso e jornada,
Sem linha, sem vento e lufada,
Na busca de mais outra almada!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Marasmo

Uma falta total de dor
E assim, poesia não vem...
Se não porque é refém,
De tudo que pensa amor!

Dias e dias de ausências,
Porque a vida está boa,
Esquecer até reminiscências,
É navegar numa lagoa!

Tragar a perfeição alheia,
É sorver sua lânguidez,
Quando a vida não é feia,
O poeta perde a sua vez!

A utopia se fez verso,
Nua, crua, sem assunto,
Seria mais um defunto,
De um parnasiano avesso!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

kairos


O poeta está sempre morto,
Vive na posteridade
sem paralelo de tempo,
Sem verdade,
Se desencontra!
Diante do absurdo
Do que escreve:
Está aqui, mas sua poesia não!
É breve!
É um sem tempo,
Um visionário,
Um louco,
Um futurista!
Um missionário!
Tudo que vê é poesia,
E isso é passado,
Que presente inexistente?
Só se o futuro...
E-vidente!

Preciso

Se é preciso dizer o que li?
Das impressões que senti,
E do tempo que vi!

Nem é preciso saber o que li...
Das sensações que sofri,
E do que penso de ti!

Mas é preciso reter o que li;
Das emoções que abri,
E do mundo que vi!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Dívida

Te prometi
um poema,
Te paguei
à pena...
Te saldei
dilema,
Te comprei
problema!
Te refiz
a arena,
Te mandei
um lema...
Te esperei
amena,
Te escrevi
a cena!
POEMA!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

De... Só

De dormir tão pouco,
Só fica o louco!
De sonhar tão breve,
Só fica a neve!
De deitar tão nua,
Só fica a lua!
De acordar tão só,
Só fica a dó!
De sair tão cedo,
Só fica o medo!
De pensar tão mal,
Só fica o sal!
De jogar tão bem,
Só fica além!
De subir tão alto,
Só fica o salto!
De medir tão certo,
Só fica o perto!
De querer tão bela,
Só fica a vela!
De ouvir tão longe,
Só fica o monge!
De saber tão forte,
Só fica a morte!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

PREPOSIÇÃO

PAREI DE OLHAR
PRA BAIXO,
PAREI DE OLHAR
ABAIXO,
PAREI DE OLHAR
EMBAIXO,
TÔ POR CIMA!

A tua cor

A tua cor
tem cheiro,
Prisma de azul,
Fagueiro!

A tua cor
tem gosto,
Espectro anil,
Desgosto!

A tua cor
tem som,
Cadente blue,
Aeon!

Reprise de Aguadeiro



Flui do teu salar,
Deserto de Aguadeiro,
Chuva seca no mar,
Alaga mundo inteiro!
É prata de luar,
Que venta devaneio...
- Teu olhar!

Não tente

Não tente me conter,
Nem teu espectro,
Nem todo aspecto,
Nem o teu ser!

Não tente me perder,
Nem teu emblema,
Nem todo edema,
Nem o teu o ver!

Não tente me render,
Nem teu facismo,
Nem todo abismo,
Nem o teu crer!

O ser Hedonista





O ser Hedonista,
É um fetichista,
É um artista,
Um da lista!

É um absolutista,
O ser Hedonista,
Um purista,
Um sem pista!

O ser Hedonista,
É um lobista,
Um racista,
Um que dista!

É um cronista,
O ser Hedonista,
Um solista,
Um à vista!